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quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

As múltiplas teorias de Darwin

Aposto que todos já ouviram falar em Teoria da Evolução. Ou, no mínimo, quando ouvem o nome “Darwin” imediatamente relacionam uma coisa à outra. Não é para menos: uma das maiores revoluções na ciência e no pensamento humano teve sua origem nas obras de Charles Robert Darwin, particularmente n’A Origem das Espécies.

Em 2009 serão comemorados os 150 anos da publicação d’A Origem e os 200 anos do nascimento de Darwin. Após tanto tempo, ainda podemos verificar uma conceituação errada sobre o que é evolução, seleção natural ou mesmo qual foi a proposta de Darwin ao publicar seu livro.

A evolução é o processo pelo qual a vida passa ao longo do tempo, modificando-se. A idéia já é antiga, e precede Darwin. Lamarck e Buffon realizaram diversos trabalhos a favor da evolução. O próprio avô de Darwin, Erasmus Darwin, era um evolucionista. Charles, porém, nunca chegou a conhecê-lo, mas se interessava muito pela sua importante obra, Zoonomia. Apesar da idéia de que a vida evoluía ser antiga, pouco havia sido produzido com relação aos mecanismos naturais que controlavam a evolução.

Não havia, lá pelos idos de 1830, muitos problemas com relação à evolução. A idéia, em si, não tinha muitos conflitos com a perspectiva religiosa da vida. O transmutacionismo (transformação de uma espécie em outra) fazia muito sentido, bem como a possibilidade de terem ocorrido múltiplos eventos criacionistas, o que explicava o registro fóssil com animais que não mais existiam.

Darwin era um Lamarckista, porém com uma noção excelente do tempo geológico. Aos poucos, conectou a evolução ao pensamento populacional, ou seja, as espécies vivem em grupos separados, e os grupos nem sempre se encontram, ou seja, pode ser que as emas do norte da Patagônia não se acasalem com as emas do sul da Patagônia, o que explica as diferenças entre elas. Assim, as mudanças que se acumulam conforme elas usam ou não uma característica, vão se acentuando.

Mas, ocorreu a Darwin (particularmente após ler a obra de Malthus, sobre muita gente e pouca comida), que justamente pelos indivíduos pertencerem a um grupo, eles competem entre si por recursos. Aquele que consegue o melhor recurso e se reproduz consegue levar à frente suas características, através de sua prole. Você tem o nariz do seu pai e os olhos de sua mãe porque eles conseguiram se reproduzir com sucesso. Eles garantiram a sobrevivência das características deles. Agora, você precisa garantir a existência das suas! Quem não se reproduzir, não passa suas características para a frente. Estava nascendo a teoria da Seleção Natural.

Perceberam agora a diferença entre Evolução e Seleção Natural?

A Origem das Espécies dedica poucas páginas à Seleção natural em si, e muito mais à Origem Comum, ou seja, a idéia de ancestralidade comum etre diferentes espécies. Após 1959 1859, ano de publicação d’A Origem, muitos naturalistas e cientistas concordaram com Darwin sobre a Origem Comum e a Evolução, pois muitos fatos científicos entravam em acordo com ambas. Além disso, o tema foi muito bem tratado por Darwin. Porém, o mesmo não aconteceu com a Seleção Natural.

Ela foi violentamente atacada. Lamarckistas, saltacionistas (aqueles que acreditavam que o surgimento de uma espécie acontecia aos saltos: um quadrúpede se tornou uma baleia em apenas algumas gerações), criacionistas (as espécies eram criadas divinamente) e essencialistas (pessoas que acreditavam na essência das coisas e das espécies: aquilo é uma cadeira e representa uma cadeira ideal que está em nossas mentes) a negaram. Mesmo grandes defensores de Darwin, como Charles Lyell (geólogo que defendeu maravilhosamente a idéia de que o relevo se altera através de mudanças geológicas lentas) e Thomas H. Huxley (o chamado “bulldog de Darwin”, criador do conceito de Agnosticismo) não concordavam com a Seleção Natural. Huxley era saltacionista e Lyell era muito religioso.

A Seleção Natural parecia estar com os dias contados na segunda metade do século XIX, mas Weismann não deixou. Ele compreendeu profundamente os princípios da Seleção Natural (muitas vezes melhor do que Darwin), conseguiu refutar com estilo todas as idéias contrárias à seleção e demonstrou, através dela, que tudo o que o lamarckismo (por exemplo) explicava era melhor explicado sob a visão da seleção. Ele foi muito mais longe e chegou a publicar um dos primeiros conceitos de genótipo e fenótipo, ao considerar a herança que os filhos recebem dos pais. Algo assim: não há transferência do soma (características adquiridas durante a vida, como perda de membros, musculatura fortalecida etc) para o plasma germinativo (naquela época ele não sabia, mas ele estava falando do DNA! Décadas antes de Watson e Crick).

Notaram a complexidade da dita “teoria de Darwin”? Fica mais fácil compreendê-la sob a perspectiva de que Darwin elaborou um conjunto de teorias e não uma coisa monolítica, inseparável. Até hoje a importância da Seleção Natural é discutida, qual a real contribuição dela na evolução dos organismos. Nem sempre um organismo evolui a partir da uma espécie sofre mudanças devido à Seleção, mas deixarei este assunto para outro post.

Dia de Darwin 2008: dia de reflexões para a Biologia Moderna

Senta que lá vem história...

Pensem na teoria de Darwin como um conjunto de teorias. Somente assim seremos capazes de analisar os reais impactos das idéias contidas n’A Origem das Espécies sobre o pensamento moderno.

Referência bibliográfica: MAYR, E. 2006. Uma ampla discussão - Charles Darwin e a gênese do moderno pensamento evolucionário. FUNPEC Editora, Ribeirão Preto, pp 108-131.

4 comentários:

Anônimo disse...

Napister, tá mto bom mesmo esse blog! Simples mas informativo e interessante!
Parabéns! Abração e T+ seu sujo!

Anônimo disse...

Oi Napister! Adorei seu blog. Mto bom e informativo... Se eu estivesse dando aulas certeza recomendaria para os alunos. Ainda não deu tempo de ler td, mas o q eu li já gostei bastante.

Parabéns!!!

Luiz Claudio Santos de Souza Lima disse...

Domingo tive a oportunidade de conhecer mais do lado humano de Darwin e sua teoria da evolução por seleção natural, no museu histórico nacional no Rio.

Quem estiver no Rio e for amante da ciência não deve perder essa oportunidade:

http://www.darwinbrasil.com.br/darwin/rj/index.asp

Em SP foram 175.000 mil visitantes uma prova de sucesso e interesse científico.

Pena que não foi aproveitado para pesquisar quantos acreditam na criação e foram até lá confrontar suas ideias.

Parabéns pelo post,

Luiz

Anônimo disse...

Parabéns pela página, Gustavo!