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quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

As múltiplas teorias de Darwin

Aposto que todos já ouviram falar em Teoria da Evolução. Ou, no mínimo, quando ouvem o nome “Darwin” imediatamente relacionam uma coisa à outra. Não é para menos: uma das maiores revoluções na ciência e no pensamento humano teve sua origem nas obras de Charles Robert Darwin, particularmente n’A Origem das Espécies.

Em 2009 serão comemorados os 150 anos da publicação d’A Origem e os 200 anos do nascimento de Darwin. Após tanto tempo, ainda podemos verificar uma conceituação errada sobre o que é evolução, seleção natural ou mesmo qual foi a proposta de Darwin ao publicar seu livro.

A evolução é o processo pelo qual a vida passa ao longo do tempo, modificando-se. A idéia já é antiga, e precede Darwin. Lamarck e Buffon realizaram diversos trabalhos a favor da evolução. O próprio avô de Darwin, Erasmus Darwin, era um evolucionista. Charles, porém, nunca chegou a conhecê-lo, mas se interessava muito pela sua importante obra, Zoonomia. Apesar da idéia de que a vida evoluía ser antiga, pouco havia sido produzido com relação aos mecanismos naturais que controlavam a evolução.

Não havia, lá pelos idos de 1830, muitos problemas com relação à evolução. A idéia, em si, não tinha muitos conflitos com a perspectiva religiosa da vida. O transmutacionismo (transformação de uma espécie em outra) fazia muito sentido, bem como a possibilidade de terem ocorrido múltiplos eventos criacionistas, o que explicava o registro fóssil com animais que não mais existiam.

Darwin era um Lamarckista, porém com uma noção excelente do tempo geológico. Aos poucos, conectou a evolução ao pensamento populacional, ou seja, as espécies vivem em grupos separados, e os grupos nem sempre se encontram, ou seja, pode ser que as emas do norte da Patagônia não se acasalem com as emas do sul da Patagônia, o que explica as diferenças entre elas. Assim, as mudanças que se acumulam conforme elas usam ou não uma característica, vão se acentuando.

Mas, ocorreu a Darwin (particularmente após ler a obra de Malthus, sobre muita gente e pouca comida), que justamente pelos indivíduos pertencerem a um grupo, eles competem entre si por recursos. Aquele que consegue o melhor recurso e se reproduz consegue levar à frente suas características, através de sua prole. Você tem o nariz do seu pai e os olhos de sua mãe porque eles conseguiram se reproduzir com sucesso. Eles garantiram a sobrevivência das características deles. Agora, você precisa garantir a existência das suas! Quem não se reproduzir, não passa suas características para a frente. Estava nascendo a teoria da Seleção Natural.

Perceberam agora a diferença entre Evolução e Seleção Natural?

A Origem das Espécies dedica poucas páginas à Seleção natural em si, e muito mais à Origem Comum, ou seja, a idéia de ancestralidade comum etre diferentes espécies. Após 1959 1859, ano de publicação d’A Origem, muitos naturalistas e cientistas concordaram com Darwin sobre a Origem Comum e a Evolução, pois muitos fatos científicos entravam em acordo com ambas. Além disso, o tema foi muito bem tratado por Darwin. Porém, o mesmo não aconteceu com a Seleção Natural.

Ela foi violentamente atacada. Lamarckistas, saltacionistas (aqueles que acreditavam que o surgimento de uma espécie acontecia aos saltos: um quadrúpede se tornou uma baleia em apenas algumas gerações), criacionistas (as espécies eram criadas divinamente) e essencialistas (pessoas que acreditavam na essência das coisas e das espécies: aquilo é uma cadeira e representa uma cadeira ideal que está em nossas mentes) a negaram. Mesmo grandes defensores de Darwin, como Charles Lyell (geólogo que defendeu maravilhosamente a idéia de que o relevo se altera através de mudanças geológicas lentas) e Thomas H. Huxley (o chamado “bulldog de Darwin”, criador do conceito de Agnosticismo) não concordavam com a Seleção Natural. Huxley era saltacionista e Lyell era muito religioso.

A Seleção Natural parecia estar com os dias contados na segunda metade do século XIX, mas Weismann não deixou. Ele compreendeu profundamente os princípios da Seleção Natural (muitas vezes melhor do que Darwin), conseguiu refutar com estilo todas as idéias contrárias à seleção e demonstrou, através dela, que tudo o que o lamarckismo (por exemplo) explicava era melhor explicado sob a visão da seleção. Ele foi muito mais longe e chegou a publicar um dos primeiros conceitos de genótipo e fenótipo, ao considerar a herança que os filhos recebem dos pais. Algo assim: não há transferência do soma (características adquiridas durante a vida, como perda de membros, musculatura fortalecida etc) para o plasma germinativo (naquela época ele não sabia, mas ele estava falando do DNA! Décadas antes de Watson e Crick).

Notaram a complexidade da dita “teoria de Darwin”? Fica mais fácil compreendê-la sob a perspectiva de que Darwin elaborou um conjunto de teorias e não uma coisa monolítica, inseparável. Até hoje a importância da Seleção Natural é discutida, qual a real contribuição dela na evolução dos organismos. Nem sempre um organismo evolui a partir da uma espécie sofre mudanças devido à Seleção, mas deixarei este assunto para outro post.

Dia de Darwin 2008: dia de reflexões para a Biologia Moderna

Senta que lá vem história...

Pensem na teoria de Darwin como um conjunto de teorias. Somente assim seremos capazes de analisar os reais impactos das idéias contidas n’A Origem das Espécies sobre o pensamento moderno.

Referência bibliográfica: MAYR, E. 2006. Uma ampla discussão - Charles Darwin e a gênese do moderno pensamento evolucionário. FUNPEC Editora, Ribeirão Preto, pp 108-131.

Arrumando a casa aos poucos...

Olá pessoal,

Quem tem acompanhado o SEV, tem visto algumas mudanças na cara do blog. Estou, aos poucos, acrescentando alguns elementos visuais e dinâmicos para deixar o blog mais interativo e com mais atrações.

Já inseri, à direita da página, uma coluna de links interessantes, para vocês terem uma idéia do que é que eu estou lendo na internet e também que valem a pena serem visitados. Disponibilizei um link para vocês baixarem o livro Science, Evolution and Creationism, para quem tiver interesse no assunto. No final da página há um mapa, que registra a localidade dos IP's que visitam o blog, elaborado com auxílio do Page Rank 10.

Aos poucos eu vou ajeitando o SEV, pois como me disse um importante professor meu, sobre sua sala desarrumada: "Preciso arrumar a minha sala. Como você vê, ela possui grande está cheia de entropia..." (ou algo assim!). Pouco a pouco, eu reuno a energia necessária para acertar o visual do SEV.
Logo tem texto novo no blog, aguardem!

Abraços a todos!

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Ratinhos na Era do Gelo

Estou elaborando um projeto relacionado à filogeografia de roedores, sob orientação de um dos professores de minha faculdade. Vamos levantar as variações intra-específicas em diversas populações de Euryoryzomys russatus, um roedor da Mata Atlântica. Iremos utilizar dados morfológicos (cor do pêlo, tamanho das vibrissas, formato dos pés etc.), morfométricos (tamanho dos ossos, medidas do crânio, dos dentes) e moleculares (seqüência do gene Citocromo b do DNA mitocondrial) e confrontá-los com os aspectos físicos do ambiente (como morros, rios e outras barreiras) para saber com maior certeza se há diferenças entre os ratos do Nordeste e do Sudeste, e se houver, se ela está relacionada ao ambiente.

A filogeografia é a ciência que estuda a distribuição geográfica das espécies e as relações de parentesco entre elas. É bastante interessante, pois ela muitas vezes é capaz de oferecer informações preciosas para se descobrir alguns episódios da história evolutiva da vida. Por muito tempo, ela foi desenvolvida em parceria com a paleontologia e a taxonomia. Tudo era muito baseado nas características do corpo: medidas, peso, comprimento dos ossos, disposição dos vasos sanguíneos no crânio, cor da pele, pêlo e penas entre outras.

Com o avanço das tecnologias de leitura do DNA, o trabalho da filogeografia tem se tornado muito preciso. Diversas seqüências do DNA são praticamente idênticas em todos os animais. Assim, quanto mais diferente duas seqüências forem, mais distante pode ser a relação entre elas. Algumas espécies variam bastante de cor, tamanho ou hábito, mas se a seqüência do DNA for muito próxima, o parentesco entre elas também é. E a união dos trabalhos taxonômico e molecular tem gerado resultados importantes e possibilitado a comparação entre diferentes cenários evolutivos, mostrando quais são os mais prováveis para aquela(s) espécie(s).

Vou contar-lhes um exemplo breve. Abothrix olivaceus e Abothrix xanthorhinus são duas espécies de ratinhos que vivem no Chile e na Argentina. O primeiro habita o oeste da cordilheira dos Andes, e o segundo, o leste – a Patagônia. Em Bariloche – próximo à divisa entre Chile e Argentina –, foram encontradas as duas espécies, e muitos deles pareciam ser híbridos entre elas, ou seja, resultado do cruzamento entre duas espécies distintas, apresentando características intermediárias.

Alguns estudiosos do assunto resolveram pesquisar melhor o assunto e buscar uma solução: afinal, será que Abothrix olivaceus e Abothrix xanthorhinus são duas espécies diferentes ou são uma única espécie em processo de divergência? Será que são duas espécies com dois ancestrais diferentes ou ambas possuem o mesmo ancestral? Os cientistas coletaram mais destes roedores em locais onde era comum o encontro das duas espécies e analisaram o DNA dos bichos.

Eles constataram algumas coisas importantes: a separação entre as espécies provavelmente ocorreu após a ultima glaciação do Pleistoceno, há aproximadamente 18 mil anos, quando o gelo cobria toda a cordilheira dos Andes, separando o Chile da Argentina por meio de uma barreira branca congelante. Também perceberam que os A. olivaceus do norte do Chile tinham a seqüência de DNA mais distante do restante dos A. olivaceus e dos A. xanthorhinus. Outra coisa: o DNA dos diferentes A. xanthorhinus era mais próximo dos A. olivaceus do que dentre eles mesmos, ou seja: eles coletaram vários “A”s vários “B”s. Ao analisar os DNAs dos “A”s e “B”s, notaram que os “B”s estão mais próximos dos “A”s do que de outros “B”s. E agora?

Então os cientistas elaboraram duas histórias (hipóteses) que fossem capazes de contar como Abothrix olivaceus e xanthorhinus se comportaram durante o passado:

Cenário 1: o gelo poderia ter isolado duas populações distintas: uma ao norte do Chile, de A. olivaceus, e outra ao norte da Patagônia, de A. xanthorhinus. Conforme as geleiras foram recuando, as duas espécies foram explorando as terras mais ao sul, e posteriormente acabaram se encontrando e se intercruzando nas regiões dos Andes, gerando os híbridos. Neste caso, cada espécie teria sua própria população ancestral (bolinhas no mapa). Este cenário é descrito como modelo de divergência de vicariância alopátrica, ou seja, quando duas espécies/populações de regiões diferentes se encontram e se cruzam (vicariância).


Cenário 2: o gelo teria isolado uma única população de A. olivaceus no norte do Chile. Conforme o gelo foi recuando, a espécie foi colonizando as terras mais ao sul e se espalhando para o lado leste dos Andes. Estas novas populações do leste dos Andes foram se tornando diferentes daquelas do Chile. Assim, as duas espécies que vemos hoje de Abothrix tiveram, no passado, apenas uma população ancestral comum. Este cenário é chamado de modelo de divergência com fluxo gênico, ou seja, as duas espécies de hoje eram apenas uma no passado, que se dividiu e se espalhou, dando origem a duas populações diferentes, uma a oeste da cordilheira (hoje A. olivaceus) e outra a leste (hoje A. xanthorhinus), limitando o cruzamento entre elas devido às montanhas servirem como barreiras.


Recapitulando:

A – Os Abothrix olivaceus do norte do Chile são diferentes de todo o resto, dando suporte à hipótese de uma população original de A. olivaceus nessa região na era glacial (Cenários 1 ou 2);

B – As análises de DNA demonstraram que os Abothrix xanthorhinus são mais próximos dos Abothrix olivaceus do que de outros Abothrix xanthorhinus. Isso não é compatível com o Cenário 1, pois se as duas espécies tivessem dois ancestrais diferentes, o DNA de uma espécie seria diferente do da outra, e não semelhante;

C – Quantificando as diferenças entre as duas espécies, ficou evidente que se tratavam de populações com um único ancestral (Cenário 2), pois haviam muitas diferenças entre um rato e outro, e poucas entre o conjunto de ratos do Chile e o conjunto de ratos da Argentina.

Resultado do estudo: existem fortes indícios que apontam para a ancestralidade comum entre A. olivaceus e A. xanthorhinus e até mesmo coloca em dúvida se são duas espécies diferentes ou se não passam de uma só (A. olivaceus + A. xanthorhinus = A. olivaceus, apenas), com duas populações diferentes em processo de divergência. Seriam necessários mais alguns estudos com as populações da Argentina, descoberta de fósseis e estudos semelhantes com outras espécies para dar maior certeza do que realmente aconteceu no passado.

Realmente, não podemos voltar no tempo e saber exatamente a história destes ratinhos pela América do Sul, porém temos ferramentas poderosíssimas que permitem testar as diferentes hipóteses evolutivas e demonstrar quais delas são mais prováveis, de acordo com os dados que obtemos.

Referência bibliográfica: SMITH, M.F.; KELT, D.A. & PATTON, J.L. 2001. Testing models of diversification in mice in the Abothrix olivaceus/xanthorhinus complex in Chile and Argentina. Molecular Ecology, nº 10, pgs 397-405.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Bacanal no sicônio: lindo exemplo de co-evolução.

Aos leitores do blog, desculpem-me pela demora em fazer um novo post, porém nestes últimos dias me dediquei exclusivamente a cumprir um prazo para escrever um projeto de estágio. E consegui! Ufa!!

Há quem diga que o conhecimento tira o encanto do mundo. Isso parece incoerente. A idéia de que devemos evitar o conhecimento para termos interesse na vida significa que “sem magia (ou sem as coisas inexplicáveis), o mundo é sem graça”. Eu duvido muito!

Conhecer com maiores detalhes o que realmente torna a natureza tão fantástica pode ser bastante prazeroso, pois satisfaz nossa curiosidade, e não necessariamente torna o mundo mais sem graça. A admiração continua existindo, e fica muito melhor pois agora ela é dotada de sabedoria.

Obviamente, algumas aulas de Biologia não foram exatamente planejadas para nos fazer amar o DNA ou a mitose, pelo contrário, podem se tornar péssimas experiências e não cumprirem os seus objetivos, como qualquer aula de qualquer outra disciplina do currículo básico – Português, Geografia, Matemática, Física. Desta última, eu mesmo tenho recordações bem amargas!

É para desfazer o gosto amargo que alguns sentem quando tomam aquela colherada de Biologia para a segunda fase do vestibular, ou para se impressionar mais com as histórias da natureza que o SEV foi criado.

Uma área que sempre serve de pano de fundo para histórias mirabolantes é a de estratégias reprodutivas, tanto de animais quanto de vegetais ou microrganismos. Eu gosto muito quando diferentes histórias de vida se entrelaçam. É o caso de microvespas e de um gênero de plantas chamadas de Ficus, ou figueiras.

O fruto da Ficus se parece muito com nosso figo convencional, que se vende em calda. Porém, ele não é um fruto propriamente dito, mas sim uma caixinha, cheia de flores, com uma pequena entrada. Este tipo de formação é chamada de sicônio. O figo que comemos é um sicônio também, só que selecionado e hibridizado para ser bem suculento.

Pois bem, existem os sicônios das Ficus masculinas (com flores femininas e masculinas) e os sicônios das Ficus femininas (com flores femininas). Nos sicônios masculinos, as flores femininas têm um pistilo (tubo por onde o núcleo do pólen alcança os óvulos para gerar a semente) curtinho, e nos sicônios femininos, as flores femininas têm pistilo longo. Outra diferença é que os sicônios masculinos apresentam flores masculinas, que possuem praticamente somente os estames com pólen, e elas ficam todas próximas ao orifício do sicônio.

Pois bem. As microvespas são parasitas de Ficus. Elas consomem as flores de dentro dos sicônios. “Malditas vespas...”, você pode estar pensando. Mas acontece que a Ficus depende deste parasitismo. Quando as microvespas chegam à época de reprodução, elas visitam os sicônios e entram pelo pequeno buraquinho, pelo qual só elas conseguem entrar por serem minúsculas.

Ao entrarem no sicônio masculino, com ajuda de seu ovipositor (um tubo comprido que sair de trás do abdome da vespinha – pode chamar de bunda, mas não é um nome muito adequado!), ela alcança os ovários da flor feminina, deixa seus ovos lá dentro e morrem. Depois de um tempo, os ovos eclodem, as larvas devoram sem piedade as flores femininas e aí começa uma suruba artrópode, digna das orgias gregas. As microvespas mal nasceram e já vão para o oba-oba. Ô mundo precoce... Bom, depois do rala-e-rola geral dentro do sicônio masculino, as vespinhas fêmeas precisam sair, para se alimentar e depositarem seus ovos. Para tanto, elas precisam passar pelas flores masculinas, e aí está o segredo: as flores masculinas amadurecem e liberam o pólen no momento exato em que as vespinhas irão abandonar o sicônio! Enquanto caminham em direção à saída, elas se enchem de pólen.

O ciclo se reinincia. Porém, as vespinhas não visitam somente os sicônios masculinos, visitam os femininos também. Nos femininos, as flores femininas com pistilo longo também servem de local para depósito de ovos de vespinha. Só que o ovipositor da vespa não é longo o suficiente, e o ovo acaba ficando no meio do caminho até o ovário. Pobre dele, pois não irá se desenvolver e a flor se manterá intacta. E qual a importância disto para o Ficus?

A vespinha, ao sair do sicônio masculino impregnada de pólen, pode visitar um sicônio feminino e, ao tentar botar seus ovos, ela poliniza a flor feminina. Além disso, como os ovos não se desenvolvem, as flores femininas polinizadas não são devorada pelas larvas -já que elas nem nascem - e conseguem dar origem às sementes! A reprodução, tanto da Ficus como das microvespas, está garantida! E o mais impressionante é que cada espécie de Ficus está relacionada a uma espécie de microvespa. Este tipo de relação, onde duas espécies diferentes se beneficiam ou dependem uma da outra para sobreviver é o resultado de um processo chamado co-evolução.

É... E será que alguém deixa de se impressionar com o mundo, só porque passou a conhecer um pouquinho mais dele?


Referência bibliográfica: WIEBES, J.T. 1979. Co-Evolution of figs and their insect pollinators. Annual Review of Ecology and Systematics. Vol. 10, pgs. 1-12.

P.S.: Sim, os desenhos foram feitos por mim no Paint Brush... Algo contra!?

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Cortando a cebola...


Eu não falei que iria preparar o tempero para o molho do cachorro-quente?

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Obrigado angiospermas!

Hoje eu estava preparando uma lista de compras para um jantar na casa de alguns amigos. Cardápio da noite: cachorro-quente! Particularmente, adoro cachorro-quente, principalmente se tiver muito molho.

Eu faço um molho muito bem temperado, com ervas e outros vegetais aromáticos, como cebola, alho, pimenta etc. Aliás, o tempero do jantar de hoje à noite será preparado por mim...

Preparando a lista de temperos, onde se encontram alho, cebola, manjericão, pimenta, coentro, louro, salsinha e cebolinha, percebi que todos estes vegetais são exclusivamente terrestres. Todos eles fazem parte do grupo das Angiospermas, que são os vegetais que possuem flores ou, considerando a origem do nome do grupo, “semente protegida” - pelo fruto. As Angiospermas representam um grupo amplamente diversificado de vegetais, tanto em modos de vida como em morfologia. Toda esta variedade de espécies me faz pensar na história evolutiva das plantas e no papel que elas desempenham na Terra. Vou contar algumas curiosidades sobre a conquista do meio terrestre pelas plantas e sua importância na evolução dos seres vivos.

A história evolutiva das plantas começa há muito tempo atrás, há alguns bilhões de anos, com o surgimento dos primeiros seres vivos foto
ssintetizantes. Surgiram primeiramente no meio aquático, que é um facilitador de reações químicas diversas. Além disso, o meio aquático diminui drasticamente o risco de ressecamento do ser vivo, principalmente se ele não passar de uma colônia de indivíduos unicelulares. Se você quer ver um belo exemplo de uma colônia de seres unicelulares fotossintetizantes, observe guias, sarjetas ou bicas por onde a água corre ou se acumula com freqüência (piscinas abandonadas são ótimas!). Passe a mão e perceba a textura lisa. É uma outra adaptação destes seres vivos para resistirem ao ressecamento: a mucilagem. É como uma gelatina e ajuda a preservar a umidade na colônia quando a água do ambiente se torna escassa.

As algas são belos exemplos de seres fotossintetizantes muito bem adaptados ao meio
aquático. Tanto são que estão aí há centenas de milhões de anos, e de acordo com o registro fóssil, não mudaram muito ao longo do tempo. Não possuem estruturas diferenciadas, como folhas, flores ou sementes, nem caule. São praticamente um conjunto de células muito semelhantes, com capacidade de realizar fotossíntese dentro do meio aquático. Acontece que o meio aquático é muito pobre em gás carbônico em relação à atmosfera e a luz não penetra na água com a mesma intensidade que penetra no ar. Há uns 450 milhões de anos, o ambiente terrestre se tornou muito tentador aos vegetais!

Ora, conseguir luz e gás carbônico em abundância para realizar a fotossínte
se seria maravilhoso, já que assim a planta teria ao seu dispor uma quantia de alimento jamais experimentada. Porém, os desafios eram gigantescos para a conquista do meio terrestre: superar a intensa radiação do Sol, resistir ao ressecamento, sobreviver aos ventos e intempéries, obter água e nutrientes do solo, se reproduzir. Aos poucos, como nos contam os fósseis, aquelas células todas semelhantes das algas foram adquirindo características diferenciadas. Os primeiros fósseis de vegetais terrestres mostram pequeninos talos, com crescimento dicotômico (de cada ponta surge uma nova divisão em dois talos), que provavelmente habitavam ambientes transicionais, ou seja, locais enlameados, com grande disponibilidade de água. Não possuíam raízes, folhas ou coisa parecida. Estes talos são chamados de telomas.

Porém, em terra, a água e os nutrientes estão no solo e a luz e gás carbônico no ar. Esse caráter ambíguo do ambiente terrestre moldou a evolução das plantas terrestres para se tornarem um conjunto de dois compartimentos: a parte aérea, responsável pela fotossíntese e a parte subterrânea, responsável pela absorção de nutrientes.
O próximo passo foi o desenvolvimento de canais condutores para a comunicação entre o topo e a parte subterrânea.
A intensa incidência de radiação do Sol e o ressecamento foram contornados com o surgimento de um revestimento protetor impermeável (que impede a evaporação da água de dentro da planta) e o desenvolvimento de estômatos, que são como os poros da nossa pele. Os estômatos permitem as trocas gasosas e a evapotranspiração (é, as plantas também suam, através da evaporação).

Logo, aquele formato semelhante a uma galhada foi abandonado e as plantas passaram a se desenvolver em formato de um eixo, com ramos laterais. Era uma forma eficiente de aproveitar a luminosidade. Algumas plantas desenvolveram expansões aladas ligadas ao caule (folhas). Uma pressão evolutiva possível é que há 390 milhões de anos (no Devoniano) o CO2 atmosférico reduziu-se em 90%, exigindo das plantas um sistema fotossintético melhor.

Muito bem estabelecidas na terra, as plantas passaram a competir por luz. Plantas altas recebiam mais luz que as baixas. Foi neste contexto que surgiu o crescimento secundário nas plantas: o caule se torna mais rígido, capaz de se sustentar melhor e de suportar uma copa mais alta. Aparecem assim as plantas com o formato de árvore que tão bem conhecemos. Elas deram origem a um novo ambiente na terra, mais úmido e protegido da radiação solar intensa: a floresta. Grandes florestas (como a representação artística da imagem acima) de samambaias e gimnospermas gigantescas se desenvolveram a partir do Carbonífero (há cerca de 30 300 milhões de anos), construindo uma nova paisagem no globo, muito diferente daquela do Devoniano, na qual apenas plantas rasteiras e arbustos estavam presentes.

A partir daí, podemos imaginar o impacto das plantas na evolução dos seres vivos. Um novo habitat estava disponível, permitindo um acúmulo de água e nutrientes onde antes havia ressequidão e ventos. O solo não mais iria embora com o escoamento da água e os processos erosivos seriam completamente diferentes daqueles dos ambientes sem florestas. Regimes de chuvas seriam completamente alterados. Onde antes era um local árido passou a ser um ambiente vívido, com chuvas regulares. Animais começaram a procurar refúgio, alimento e outros recursos dentro das florestas e se tornaram polinizadores e dispersores das plantas, levando pólen e sementes a locais mais distantes, possibilitando a expansão dos domínios das plantas e favorecendo o desenvolvimento de frutos e flores atrativos e saborosos. Pois é, você é ludibriado pelos saborosos frutos e pseudofrutos das plantas, pois o que interessa a ela é que você os coma leve suas sementes para longe!

É inegável que as plantas alteraram profundamente os processos geológicos e evolutivos da Terra e dos seres vivos, respectivamente. Compreender sua evolução e seu papel no mundo pode levar a entender a importância da preservação e do estudo com estes maravilhosos exemplos de sucesso evolutivo.

Refrência bibliográfica: GONÇALVES, E.G. & LORENZI, H. 2007. Morfologia Vegetal. Instituto Plantarum de Estudos da Flora, São Paulo, pp 15-20.

P.S.: (09/02/2008) Fiz uma correção no texto (indicada pelo Rafael, nos comentários deste post). O Carbonífero ocorreu há cerca de 300 milhões de anos, e não apenas 30 milhões.

sábado, 5 de janeiro de 2008

Por favor, onde fica o Cretáceo?

Desculpem-me por fazê-los esperar pelo primeiro post temático do SEV, mas acontece que o Speedy de casa não funciona desde 3 de janeiro deste novo ano de 2008. Pela demora em retornar a conexão, acho que deve ter pegado fogo em toda a central deles! Quando me irrito com o serviço boqueta de banda larga que a Telefónica oferece, tenho esse desejo de que todos eles ardam nas chamas da ira humana! (Nossa...)

Eu adoro filmes de animação ou com efeitos visuais muito bem elaborados. Nos últimos anos a computação gráfica no cinema permitiu uma nova gama de possibilidades jamais imaginada pelos irmãos Lumière. Atores que não existem na realidade, a não ser pelas suas vozes (como n’O Expresso Polar, dublado pelo Tom Hanks), ambientes fantásticos (vem aí o Speed Racer para vocês conferirem bons exemplos!), filmes feitos totalmente em computação gráfica, inclusive os atores (o filme Beowulf, que estreou neste final de 2007 nas telas brasileiras) e filmes de animação, que têm trazido diversão e histórias cativantes para todas as idades.
Um dos filmes desta linha que mais me atraíram e me impressionaram foi o primeiro Jurassic Park, em 1994. Aqueles montes de carnívoros do Cretáceo (como o tiranossauro e os raptores) e aquela folha de magnólia (se não me engano, era esta a planta) que a linda Helen Hunt Laura Dern segura na mão ao chegar ao parque nos fazem viajar a um tempo antigo, que antes da computação gráfica só estava presente em nossa imaginação.


Espere um pouco, que raio é esse de Cretáceo?

Para quem não sabe, a Terra tem aproximadamente 4,5 bilhões de anos (ou se você gosta de zeros, 4.500.000.000 de anos). Quando estudamos eventos passados, costumamos nos referir aos períodos geológicos, que são como “endereços” dos eventos passados para nos situarmos no meio deste monte de zeros, por exemplo: o Cretáceo aborda o período entre 135 milhões de anos atrás até 65 milhões de anos atrás.
Bem como os anos, outras referências para o passado são os eventos que ocorreram: o que estava acontecendo com os seres vivos entre 135 e 65 milhões de anos atrás? Ora, os mamíferos estavam se desenvolvendo, assim como as angiospermas (plantas com flores). E o que estava acontecendo com a Terra? A América do Sul se separava da África, grandes erupções vulcânicas e a queda de um meteoro gigantesco alteraram completamente o clima e possivelmente levaram os dinossauros à extinção (ou melhor, quase todos; ainda temos as aves, miniaturas de dinossauros), e os dias estavam com uma duração muito próxima da dos atuais (cerca de 23 horas e 38 minutos naqueles tempos). Imaginem vocês, que a mais de 3,5 bilhões de anos, o dia durava pouco mais de 7 horas! Como a Terra girava rápido!

Mas podemos querer um endereço mais detalhado sobre algum evento no passado... Algo mais certeiro. Imagine que um visitante estrangeiro chegue ao Brasil, perguntando onde é a casa de um amigo, e eu lhe informo: “É no estado de São Paulo”! Esta resposta não parece ser muito produtiva... (talvez até seja um bom começo se o estrangeiro estiver no Acre...).
É mais ou menos isso que acontece quando alguém pergunta: “quando as flores surgiram?” E o ouvinte responde: “Ahh... surgiram no Cretáceo”. Se você já sabia disto (como o estrangeiro provavelmente já sabia que o amigo dele mora no estado de São Paulo), de nada serviu a resposta. Se você não sabia, pode começar a considerá-la meio incompleta, já que um período de 70 milhões de anos, como foi o Cretáceo, é consideravelmente longo na história evolutiva de certas espécies.


Pois bem, nosso amigo estrangeiro nos perguntou onde fica a casa do seu amigo. É como a pergunta “quando surgiram as primeiras flores?” Existem muitos fósseis de plantas do final do Cretáceo, com folhas, troncos e flores. Os fósseis de flores mais antigos que se conhecem são de um período chamado Cenomaniano, ou seja, de 96 a 94 milhões de anos atrás. Pronto! Agora sim demos ao nosso amigo estrangeiro uma indicação muito mais precisa do endereço de seu amigo, ou melhor, sabemos que foi entre o meio e o final do Cretáceo. Não é um número nem a cor da casa, mas pelo menos ele já sabe onde fica o bairro, ou a rua.
Existem grãos de pólen mais antigos (não muito mais antigos, apenas alguns milhões de anos antes), que se assemelham aos de certas angiospermas (plantas com flores), porém, não há fósseis de flores mais antigos (até agora...). E é assim quando estudamos eventos passados: temos que trabalhar com o que temos em mãos. Apesar de buscas incessantes, faltam mais evidências que possam confirmar que as plantas com flores surgiram antes do Cenomaninano.
Estes grãos de pólen mais antigos podem até ser de angiospermas, porém, pode ser que estas primeiras angiospermas pudessem simplesmente não possuir flores! E assim, este pólen mais antigo pode ser de uma forma primitiva do grupo, ou intermediária entre gimnospermas (plantas com semente, mas sem flores) e angiospermas atuais.

Respondendo à pergunta inicial deste post, é isso que foi o Cretáceo. Um período importantíssimo na história da Terra para o estudo das origens dos grupos de seres vivos que vivem atualmente neste planeta.

Referência bibliográfica: SALGADO-LABOURIAU, M.L. 2004. História ecológica da Terra. 2 ed. Editora Edgar Blücher Ltda, São Paulo, pp 116; 129-133.

P.S. 1: Estou utilizando conexão discada, depois eu coloco mais imagens! Abraços! Já está editado! (08/01/2008)
P.S. 2: O termo "período" foi utilizado neste post apenas para designar intervalos de tempo, sem o significado paleontológico.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Olha o SEV aí! Por favor, uma salva de palmas...

Olá a todos!

Eu sou Gustavo Simões Libardi, graduando em Ciências Biológicas, de Piracicaba, SP (é isso mesmo, terra da pamonha e do cural, da “porrrta aberrrta” e set de filmagem da novela global Pé na Jaca - não, eu não me orgulho deste último!!). Em um momento de reflexão (talvez insanidade ou sono...) resolvi criar um blog relacionado à biologia, mas que fosse interessante para o biólogo e para o público em geral. Como post de inauguração deste blog vou esclarecer quais os seus objetivos.

Scientia et Vita, em latim, quer dizer “Ciência e Vida”. O SEV trará a vocês histórias relacionadas à ciência, à biologia (quem não se lembra daquelas aulas no colegial, onde a primeira coisa que o professor fazia era explicar o significado do termo biologia?) e à natureza.

A natureza está cheia de histórias de vida interessantes, tanto sobre animais, como sobre plantas, fungos e seres microscópicos. Ela é um cenário vívido, onde se desenrolam corridas armamentistas, assassinatos, fugas mirabolantes, ciladas, perseguições, romances, viagens, encontros e desencontros, refeições em família e o surgimento de estruturas para adaptação que tornam muitos seres vivos mais bizarros que qualquer “Homem-Mosca” ou Danny DeVito vestido de pingüim!

A história da ciência é uma coletânea fantástica de intrigas, inveja, mesquinharia, sucessos, descobertas incríveis, erros e histórias de amor e ódio. Essa riqueza de eventos pode ser atribuída ao simples fato de que a ciência é feita por humanos, cujas relações entre uns e outros podem ser cheias de subjetividade e emoção (não muito diferente daquelas dos outros primatas). Aliás, que tipo de relação humana não é passível de momentos bons e ruins?

Acredito que eu tenha conseguido expor de maneira simples e completa os objetivos do SEV e que ele tenha atraído a sua atenção.

Até o próximo post!

P.S.: perceberam a conexão entre as figuras e as letras em vermelho?