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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Senta que lá vem história...

Ernst Walter Mayr nasceu em 5 de julho de 1904, na Alemanha, e faleceu em 3 de fevereiro de 2005. Ele foi um dos biólogos de maior destaque do século XX, e suas principais contribuições à Biologia Moderna talvez sejam sua participação na elaboração da Moderna Síntese Evolutiva e o conceito de que uma espécie é um grupo de indivíduos semelhantes (população) que cruzam entre si e não entre outras populações. Sua produção científica foi imensa e constante até a sua morte, aos 100 anos, culminando com a publicação do livro “Biologia, Ciência Única”, em 2004, trazido ao Brasil pela editora Companhia das Letras - a propósito, é uma excelente dica de leitura.

Seguindo a idéia do post anterior, trago para vocês uma tabela, elaborada por Mayr em seu livro “Uma Ampla Discussão”, sobre os estágios do desenvolvimento do Darwinismo. Depois, eu irei realizar alguns comentários para entendermos o resumo cronológico abaixo. Uma dica: esqueça certas coisas sobre o Darwinismo que você aprendeu no seu colegial e preste atenção para entender o que você deixou passar na faculdade, pois estava de ressaca!

O termo Neo-Darwinismo, cunhado por Geoges J. Romanes em 1896, refere-se à teoria desenvolvida por August Weismann no final do século XIX. Consistia no Darwinismo sem a herança dos caracteres adquiridos, ou seja, sem o lamarckismo: Darwin aceitava a idéia de que certos caracteres adquiridos da interação do indivíduo com o ambiente poderiam ser herdados pelos seus descendentes (herança branda). Com os estudos genéticos se desenvolvendo, o reconhecimento da recombinação genética como geradora da variação necessária para a evolução foi firmado e foi estabelecido que características adquiridas não passavam para o plasma germinativo (na linguagem atual, DNA).

O Mendelismo surgiu a partir da redescoberta dos estudos de Gregor Mendel (é, aquele famoso das ervilhas!). A contribuição que o pensamento mendeliano deu ao Darwinismo foi de que o material genético é constante durante a transmissão de uma geração à outra, ou seja, você recebe cromossomos do seu pai e da sua mãe, mas eles não se misturam como dois líquidos de cores diferentes. O conjunto de cromossomos que você recebeu do sei pai é praticamente igual ao dele, e o mesmo acontece com o conjunto que você recebeu de sua mãe. Esta constatação refutou a teoria da herança mista, na qual os materiais genéticos dos pais se fundiam para gerar o do filho. Esta idéia é bastante antiga, e remonta à antiga civilização grega, com um toque genético. Na verdade, até a herança mista é bem melhor que muitas das afirmações sobre herança que Aristóteles propagava, dentre elas, a de que herdamos apenas características dos nossos pais, e que se há algum traço de sua mãe, foi uma interferência (no sentido de “erro”) do sangue nossas mães durante a gravidez. É mole!?

O Fisherismo é um conjunto de propostas desenvolvidas por sir Ronald A. Fisher e aborda a evolução de forma reducionista, ou seja, ela atua sobre a menor partícula selecionável: os genes. O Fisherismo considera a evolução como uma mudança nas freqüências gênicas pela seleção natural. Não que ela esteja errada, mas ela não leva em conta a diversidade dos indivíduos, ou melhor dizendo, o conjunto da obra – todos os genes atuando juntos.

A Síntese Evolutiva trouxe de volta o pensamento populacional de Darwin, esquecido pelos geneticistas. Levantou questões importantes sobre as interações entre as populações, entre os indivíduos, os fatores ambientais que levam à especiação, como isolamento geográfico. O período após a Síntese foi marcado pela compreensão holística da coisa toda, ou seja, tanto a escola reducionista, que considerava apenas as relações entre os genes e a evolução, e a escola naturalista, que considerava apenas o resultado final – o indivíduo –, deveriam ser consideradas por um evolucionista. As duas abordagens não podem ser separadas, mas devem ser levadas em conta de maneira conjunta.

O acaso foi mais explorado, pois nem sempre uma característica (ou uma alteração genética) aparecia devido à seleção, mas por simplesmente ter aparecido. Talvez ela nem fosse selecionada, pois não produzia nenhuma vantagem ou desvantagem para o indivíduo. A restrição leva em conta a impossibilidade da “perfeição”, ou seja, a Seleção Natural tem seus limites e nem tudo pode ser levado à perfeição. Nosso corpo está cheio de imperfeições: problemas de coluna e joelhos desenvolvidos durante a velhice devido à postura ereta, camada de vasos sangüíneos e células nervosas em frente à retina (reduzindo a qualidade de nossa visão), canal deferente dando a volta nos ureteres (ao invés de conduzir-se diretamente dos testículos à próstata), arcada dentária pequena demais para comportar adequadamente os dentes do siso etc.

O Equilíbrio Pontuado é uma teoria estabelecida pelos paleontólogos Niles Eldredge e Stephen Jay Goud, em 1972. Ela é influenciada pelos estudos paleontológicos que constatavam que as mudanças significativas nos registros fósseis ocorriam em um curto espaço de tempo, depois eram seguidas por um período longo de constância ou mudanças muito pequenas. A teoria oferece a interpretação de que as espécies (populações, no caso), ao enfrentarem uma mudança ambiental, sofrem uma forte pressão seletiva. Exemplo: ficou mais frio, portanto quem tiver maior camada de gordura, melhor sistema de manutenção da temperatura do corpo, mais pêlos e penas ou conseguir comer mais, tem maiores chances de sobreviver e deixar descendentes. Depois deste período de seleção intensa, se o ambiente se estabilizar, as espécies não mudarão tanto, pois elas já atingiram um estágio adequado para sobreviverem ao novo ambiente, e então teremos uma seqüência longa de estabilidade no registro fóssil. Esta teoria é bastante interessante e atualmente muito debatida entre os evolucionistas.

A redescoberta da Seleção Sexual se deveu ao fato de novas pesquisas sobre o comportamento animal. Por que certas pessoas e outros animais arriscam tanto suas vidas para salvar as de outras? Se arriscarem suas vidas, elas terão menores chances de deixarem descendentes. O pavão com sua frondosa cauda, os peixes coloridos de recife, os suricatos que ficam de vigia enquanto os outros vão atrás de alimento arriscam suas vidas para se reproduzirem, demonstrarem vitalidade e ajudar o grupo, pois se expõem muito aos predadores. Como estes comportamentos estão relacionados aos genes e até que ponto eles podem ou não ser explicados por fatores genéticos são questões motivadoras de debates e estudos promissores na atualidade, dentro da Biologia Evolutiva.

Espero que os leitores tenham uma melhor compreensão do histórico das teorias e fases do Darwinismo.

Referências bibliográficas: MAYR, E. 2006. Uma ampla discussão - Charles Darwin e a gênese do moderno pensamento evolucionário. FUNPEC Editora, Ribeirão Preto.

GONICK, L. & WHEELIS, M. 1995. Introdução ilustrada à Genética. Editora Habra LTDA., São Paulo.

5 comentários:

Patola disse...

Sobre a redescoberta da seleção sexual, me esclareça uma coisa, Gustavo. A Genética Populacional é a parte "matemática" da Evolução, mas nunca vi nenhuma modelagem da seleção sexual por ela. Meu professor de evolução disse que não existem bons modelos. Você sabe alguma coisa sobre isso, fora o que o Google diz?

Ah, e sobre o tal equilíbrio pontuado, não seria importante falar da contestação de Dawkins, que diz que essa teoria não explica nada de especial?

Gustavo Simões Libardi disse...

A Seleção Sexual precisa tanto de uma observação do comportamento e dos fenótipos da espécie, quanto de um confronto com explicações lógicas. O resultado são os modelos para a seleção sexual. No livro do Futuyma (Biologia Evolutiva - 2a ed.) tem um bom trecho dedicado á explicação do modelo de Fisher (1930) e Kirkpatrick (1982) - que nome: é o Cap. Kirk fantasiado de Patrick do Zorra Total, ou vice-e-versa? Enfim, vou dar uma lida nele para entender melhor...

Sobre a crítica de Dawkins, não me recordo no momento de alguma obra em que ele o faça, se puder me indicar a bibliografia eu verifico. Uma das críticas que eu conheço é que o Equilíbrio Pontuado é lindo, mas é praticamente impossível de ser provado ou refutado, portanto, não é científico. Mas sei lá, acho que ainda tem muita água pra correr sobre o Equilíbrio Pontuado. Abraços!

Patola disse...

Capítulo 9 inteiro do livro "O Relojoeiro Cego", em que ele faz críticas pungentes ao pontuacionismo de Gould - http://en.wikipedia.org/wiki/Punctuated_equilibrium#Criticism . O problema do pontuacionismo, creio, é posar como teoria científica e não agregar informação, e ainda assim ser passado como cânone nas matérias de biologia. Por outro lado, existe essa resposta a Dawkins aqui: http://www.geocities.com/ginkgo100/pe.html

Sobre Fisher et. al, obrigado pela referência. Googlar com esses nomes realmente me trouxe resultados mais interessantes; mas você tem algum endereço web de antemão?

Vou ver se compro o livro do Futuyama. Ou se acho pra baixar enquanto não compro...

Gustavo Simões Libardi disse...

Obrigado Patola, vou dar uma revisada no Relojoeiro. O link que você me passou sobre a resposta a Dawkins é bastante esclarecedor. Abraços!
P.S.: Paguei R$ 42,00 na livraria Para Ler (da minha cidade, Piracicaba) do meu Futuyma. Está R$ 45,00 no site Cia. dos Livros (www.ciadoslivros.com.br), aliás, de onde comprei vários outros livros a preços muito bons....

Anônimo disse...

Oi Napister!
Primeiro comentário meu no seu blog! hahahhaa
Muito bom mesmo hein!
To acompanhando sempre!

Abraços!!

Paçaro